Podem encontrar a primeira parte aqui e a terceira aqui. Quando acordou, demorou um par de segundos a entender o que se passava. As imagens da cidade em chamas voltaram a sua memória, despertando-o à mesma velocidade que um corrente de ar frio o faria. Ainda estava calçado e vestido como na noite anterior e só um cobertor velho o resguardava. Levantou-se do sofá que lhe fora cedido pela família e olhou através da janela. Amanhecera sem nuvens. Ao consultar o relógio, viu que já passavam muito da hora de abertura da loja. Só deu dois passos antes de perceber […]
O Guarda-Livros – Parte 3/4
Podem encontrar a primeira parte aqui e a segunda aqui. – O livreiro não está nada bem… – Não se preocupem, acho que sofro de claustrofobia – mentiu, apoiando-se na parede. Respirou fundo e concentrou toda a atenção em acalmar-se. – Não podemos fazer mais do que esperar, por isso, propunha que dividíssemos uma das conservas. As crianças devem estar com fome – sugeriu, apontando para as três latas guardadas ao canto. A ideia foi aceite e pouco depois Carlos mastigava o seu terço de sardinha. Durante a sua juventude sonhara ser escritor, mas vicissitudes da vida tinham ditado que […]
O Guarda-Livros – Parte 2/4
Podem encontrar a primeira parte aqui. Ao abrir as três caixas que haviam sido entregues naquela manhã, percebeu que a compensação do estado não lhe agradava. Os novos livros eram apenas versões distorcidas dos que lhe haviam sido retirados. O valor deles não chegava sequer para cobrir metade do prejuízo e escrever um agradecimento ao Ministério da Cultura fora o maior frete da sua vida. Foi depois de almoço que encontrara um monte de livros que não havia sido inspeccionado. Olhou para a pilha sem saber se deveria seguir a sensatez ou a consciência. Só a irritação com a situação facilitou […]
O Guarda-Livros – Parte 1/4
As tardes favoritas de Carlos eram as de Domingo. O movimento era pouco e podia dedicar-se à sua actividade preferida sem ser incomodado. Caminhou pelas ruas desertas do Porto. A população ouvia a emissão de rádio em suas casas. A hora era perfeita, mais cedo havia namorados no parque e mais tarde seria suspeito. Entrou pelo portão principal semi-oculto pelo chapéu de feltro e sobretudo de gola alta, todo vestido de preto. Queria poder passar por um agente do governo. Ensinaram-lhe que quando se tratava de actividades proibidas, nada podia ser deixado ao acaso. Passeou pelo parque, procurando uma zona […]