A Primavera – Parte 2/2

Este conto faz parte da antologia Legado de Eros: Podem encontrar a primeira parte em: http://pedro-cipriano.blogspot.de/2013/11/a-primavera-parte-12.html As sirenes ouviram-se a meio do jantar. Num momento de hesitação, mãe e filha fitaram-se. Ana levou a taça à boca e sorveu o resto da sopa sem respirar. Levantou-se num pulo e foi ao quarto buscar um cobertor, encontrando a mãe à porta com uma vela e fósforos. A progenitora trancou a porta, havia sempre quem se aproveitasse da confusão para se apoderar do alheio. Desceram as escadas, saindo pelas traseiras do prédio. Apressaram-se a galgar os degraus que conduziam ao abrigo. A construção […]

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Anjos da Morte

Bruno sabia que o inimigo ia chegar a qualquer momento. Alinhou o avião com a pista e levou o motor ao máximo de rotação. O caça ganhou velocidade, percorrendo a faixa delimitada pela dupla fileira de luzes. Ia a meio da pista quando o aparelho de João levantou voo. Esperou uns segundos e puxou os controlos, consciente que outro avião o seguia. A aeronave deixou o solo, seguindo a de João. Rangeu os dentes e apertou os comandos com força para não tremer. Era a sua primeira missão e a cidade estava sobre ataque. Faltavam uns minutos para o ano […]

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A Primavera – Parte 1/2

Este conto faz parte da antologia Legado de Eros: As tímidas flores roxas foram as primeiras a despontar naquele ano. Floresciam solitárias naquela margem do Mondego, uma ilha de vida no meio da terra vazia, arautos da primavera. Inúmeras covas artificiais espalhavam-se em volta. Milhares de fragmentos de metal misturavam-se no húmus e na rocha pulverizada. As flores eram o único ser vivo que aparentava não se aperceber da desolação que as rodeava. Miguel ouviu a agitação propagar-se pelas trincheiras. Não era preciso muito para se gerar uma comoção por ali, tudo o que quebrasse a monotonia de estar aninhado […]

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Boas Festas vindas do céu

Dezembro de 2032 O bimotor atravessava os céus nocturnos à velocidade de cruzeiro. Aos comandos do arcaico bombardeiro, Rui não pôde evitar estremecer ao reconhecer a faixa escura no solo, a terra de ninguém. Deixara os limites do seu estado. Com as tensões a escalarem de dia para dia, não era preciso ser filósofo para perceber que a paz não podia durar. Depois do grande conflito do início de século, Portugal ficara dividido em três. O Norte aliara-se à Galiza e o Sul declarara independência, instaurando um governo neocomunista. O governo de Lisboa recusava-se a aceitar a divisão. Para o […]

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O Guarda-Livros – Parte 4/4

Podem encontrar a primeira parte aqui e a terceira aqui. Quando acordou, demorou um par de segundos a entender o que se passava. As imagens da cidade em chamas voltaram a sua memória, despertando-o à mesma velocidade que um corrente de ar frio o faria. Ainda estava calçado e vestido como na noite anterior e só um cobertor velho o resguardava. Levantou-se do sofá que lhe fora cedido pela família e olhou através da janela. Amanhecera sem nuvens. Ao consultar o relógio, viu que já passavam muito da hora de abertura da loja. Só deu dois passos antes de perceber […]

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O Guarda-Livros – Parte 3/4

Podem encontrar a primeira parte aqui e a segunda aqui. – O livreiro não está nada bem… – Não se preocupem, acho que sofro de claustrofobia – mentiu, apoiando-se na parede. Respirou fundo e concentrou toda a atenção em acalmar-se. – Não podemos fazer mais do que esperar, por isso, propunha que dividíssemos uma das conservas. As crianças devem estar com fome – sugeriu, apontando para as três latas guardadas ao canto. A ideia foi aceite e pouco depois Carlos mastigava o seu terço de sardinha. Durante a sua juventude sonhara ser escritor, mas vicissitudes da vida tinham ditado que […]

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