– Muito olham vocês… – murmurou, os olhos fixos nos caninos salientes dos animais de pedra. Parecera-lhe notar uma ligeira movimentação no momento em que a urina se esbatera contra a água da taça. Mas que sabia ele?
O suficiente, talvez.
Fora aquilo o restolhar de um par de asas? Apertou o fecho das calças, passando as mãos pela ganga. Cambaleando, subiu para o rebordo da fonte. A curiosidade matou o gato. E o que haveria ali para o matar?
A pedra rodou, os pescoços virando-se na sua direcção. Três grifos, o quarto fora da sua visão, escondido pelo pilar da fonte, fixaram-no num silêncio mortificador.
Nunca antes correra tão depressa.”
“Ao vê-lo a afastar-se, reparou que mancava. Pela primeira vez ocorreu-lhe que aquele homem vira o colapso a acontecer. Ela tinha dois anos de idade e não se lembrava de nada. Até há pouco tempo, o colapso da União Europeia não passava de um episódio histórico. Era provável que ele tivesse lutado contra os franceses, impedindo que ocupassem a cidade invicta, tal como o pai de Leonor fizera.
O merceeiro voltou, passando o conteúdo da caixa de madeira para o balcão. Uma saca com meio quilo de arroz, um quilo de batatas, uma lata de sardinhas, uma pequena chouriça, um saquinho com feijões secos, um pacote de farinha, dois nabos e quatro pêras.
― Só? ― queixou-se a jovem.
― Infelizmente é o que posso dar hoje. É a guerra menina, é a guerra…”
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